Se nas últimas semanas as conversas em torno da turnê de Lady Gaga
no Brasil eram mais relacionadas ao fiasco na venda dos ingressos, a
cantora provou em sua primeira apresentação no país que não importa
muito se são 90 ou 40 mil (público esperado e divulgado pela assessoria,
respectivamente) monstrinhos que vieram lhe ver, o amor e a competência
da Mother Monster no palco são indiscutíveis. Numa noite de chuva
inconstante no Rio de Janeiro, Gaga fez a alegria do público carioca e
até chorou emocionada com a recepção calorosa dos fãs.
Desde
abril em turnê com sua "Born This Way Ball Tour", Gaga já parece
confiante o suficiente para improvisar com o circo, ou melhor, castelo
montado no palco do Parque dos Atletas, ex-Cidade do Rock. Não fossem os
vários dançarinos, as várias trocas de roupa (quase 1 figurino por
música) e o cenário gigantesco, o show da mamãe monstro é mais vibrante e
real do que qualquer outra cantora pop do mesmo naipe (as exceções
seriam Beyoncé e Shakira), o que cria uma saudável surpresa tanto para
os fãs de carteirinha (que puderam ver que não é só o vestido da diva
que é de carne e osso) quanto para os desavizados (mãe, pais e
namorados).
O repertório é um apanhado dos três
álbuns que Gaga que funciona como um bom resumo dessa "primeira fase" da
cantora. Subindo ao palco com apenas 20 minutos de atraso depois das
apresentações da bizarra Lady Starlight e do grupo britânico The
Darkness, Gaga chegou ao palco do Parque dos Atletas como a rainha
comitiva glam e gótica ao som de "Highway Unicorn". Em seguida, a
primeira polêmica: uma simulação de sexo oral no ritmo das batidas
industriais "Governament Hooker" ("prostituta do governo", em tradução
livre).
Após o primeiro choque, o primeiro momento
de catarse da noite: "Born This Way", em que Gaga é parida no palco. A
letra sobre aceitação foi o momento escolhido pelos little monsters para
uma espécie de abraço coletivo, clima de confraternização que seguiria
até o encerramento com "Marry The Night".
Antes de
puxar o hino "Hair" - escrita, segundo ela, sobre aos problemas sociais
dos Estados Unidos pós-crise econômica - Gaga chama 4 fãs ao palco. 4
jovens que provavelmente economizaram meses e meses para pagar o preço
alto dos ingressos e que agora passavam por uma experiência que só quem
já foi fã de algum artista é capaz de entender. Se o momento
provavelmente foi uma experiência única na vida daqueles little
monsters, o mesmo parece ter acontecido com a própria Gaga, de lágrimas
nos olhos visivelmente desarmada de qualquer constrangimento que a fama
pode ter lhe trazido. "Eu só quero ser eu mesma e quero que você me ame
por quem eu sou", diz a letra da música.
Esse tipo
de desprendimento voltaria a aparecer no fim da apresentação, quando
quase 10 fãs acompanharam a cantora no palco ao som de "Marry The Night"
e do rap "Cake Like Lady Gaga". Vestindo a camisa da UPP da favela que
visitou em sua estadia no Rio, Gaga parecia ignorar qualquer protocolo
popstar-fã: ela era, enfim, só mais uma monstrinha no meio do baile.
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